Para a abertura do Festival no dia 24 das 20 às
22h, já temos confirmada a participação da escritora Cidinha da Silva na Roda
de Conversa. Cidinha estará conosco discutindo o seu processo criativo, as
formas como cria e constrói suas histórias.
Abaixo algumas informações sobre seus livros
recentes que "contam histórias" afro-brasieliras e africanas.
Sobre Os nove pentes d'África
Por Chico César
"Cidinha
da Silva é uma amiga minha que escreve como quem trança ou destrança cabelos e
nos presenteia com pentes presentes cheios de passado que nos ajudam a
destrinçar o futuro. Seus pentes são pontes de compreensão entre o que somos
nós negros brasileiros agora, nossos avós recentes e os tais ancestrais
africanos. E pontes entre nós e nossos filhos e sobrinhos, os que vêm depois de
nós. Compreensão aqui que eu digo é aquele entendimento afetuoso, apaixonado
até e cheio de compaixão no sentido de gratidão pelo que se é. Pelo que nós
somos: família, solidariedade e contradição na difícil tarefa de encontrarmos,
cada um, nosso papel de levar adiante a história coletiva e ao mesmo tempo
afirmar o traço intransferivelmente pessoal do indivíduo. Estar com a mãe e
nascer, ser da famíla e ir embora, constituir a sua própria (que ainda é a
mesma). É aí que mora o penteado: saber qual é o pente que te penteia. Para os
mais jovens, a quem se destina a princípio este livro, mas também para os nem
tão jovens assim são generosas as pistas sopradas ao nosso ouvido por essa
contadora de história. Escutadora atenta, agora vem a griot nos atentar doce e
profundamente. Vem aqui nos alentar deschavando nós e nos ajudando a achar
laços nesse desconchavado mundo. Vem reforçar nossas ligações básicas,
comunitárias, domésticas. É tão certeiro e tão bem-vindo esse livro que lê-lo
me encheu de orgulho e admiração. Pelo tema e pela forma. Sei que os próximos
leitores de "Pentes" sentir-se-ão gratos a Cidinha da Silva, como
eu". (Chico César, compositor).
Sobre O Mar de Manu
O mar de
Manu, terceiro livro para todas as idades, de Cidinha da Silva, é um conto
pleno de poesia e imagens. São pequenas histórias de sabedoria narradas no
fluxo de um dia e uma noite vividos por Manu. A gente de Minas Gerais, assim
como Manu, menino oriundo de algum lugar entre o Mali, o Níger e o Burkina
Faso, precisa inventar o mar. As características geográficas desses lugares
levam seus moradores a produzir metáforas sem água para representar o infinito.
É o que faz Manu, personagem que aprendeu a sonhar com a mãe. Cidinha da Silva,
desta feita em um texto curto, prossegue no caminho da escritura em linguagem
simples e direta que dialoga com as instâncias mais sensíveis do leitor. O mar
de Manu é a primeira publicação da Kuanza Produções, uma editora dedicada à
formação do leitor literário e à ampliação do espaço editorial para as
africanidades no Brasil.
Sobre Kuami
Por Tania Macedo
Cidinha da Silva mergulha na prosa mais uma vez e
traz uma história que nos encharca de poesia ao nos contar sobre o Sereal,
“reino das sereias, próximo à pororoca, onde se misturam olhos apascentados
pelo rio e outros famintos de mar”. Cheio de imaginação, musicalidade,
situações engraçadas e a segurança de quem sabe onde vai chegar, este novo
livro da autora é um presente à inteligência dos leitores. A história nos fala
sobre os amigos Kuami, um elefantinho, e Janaína, uma pequena sereia, que
percorrem águas, florestas e também os céus, vivendo numerosas aventuras, na
procura por Dara, a mãe de Kuami, aprisionada por fazendeiros. No caminho de
sua busca, acabam ensinando muitas coisas a seus leitores, entre as quais o
valor da amizade, a força da perserverança e também o amor que pode vencer
muitas barreiras. Mas isso não quer dizer que se trata de uma estória
carrancuda ou cheia de “lições de moral”. Não! Pelo contrário, cortada todo o
tempo por um humor refinado, que cria situações engraçadas mesmo nos momentos
de maior tensão, a história flui e acompanhamos com crescente interesse a
procura da mãe do pequeno, mas destemido e amoroso elefantinho.Trata-se, assim,
de uma narrativa que será lida com prazer tanto por gente grande como pelos
pequeninos, pois se a fantasia e o suspense, sem dúvida, cativarão os jovens
leitores e farão com que leiam a história quase sem parar, os adultos
encontrarão uma prosa bem elaborada que os deliciará com os achados de
linguagem, com a ironia e a sólida construção de personagens. Ao tecer os fios
do maravilhoso - tingidos de africanidade -, com os traços de uma realidade
brasileira geralmente deixada à margem, Cidinha da Silva, neste seu livro, nos
leva também à reflexão sobre um Brasil que todos precisamos conhecer. É assim que
a música negra brasileira – inclusive o funk de periferia que faz até elefantes
voarem -, a nossa paisagem e os saberes tradicionais de nossa gente, mas,
sobretudo, a dura realidade do que ocorre nos rincões do país, comparecem no
texto a partir de uma focalização poética, mas nem por isso menos comprometida.
Dessa forma, ganha sentido pleno a última frase de Kuami: “vale a pena iluminar
a vida.” Acrescentaríamos que, por tudo isso, “vale a pena ler Cidinha da
Silva”. Tania Macedo – Professora de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa
– USP.
Para
conhecer mais a escritora: Blog da Cidinha
http://cidinhadasilva.blogspot.com.br/