A parteira e o djim

quarta-feira, 31 de julho de 2013

SEETETELANÉ

Era uma vez um homem pobre, tão pobre que carecia de família e se alimentava apenas de ratos silvestres, cujas peles se transformavam em calção curto que ia até os joelhos e era sua única vestimenta.
Certo dia que saiu para caçar roedores, logo tropeço num ovo de avestruz. Levou-o para sua casa e colocou num ninho. Novamente saiu e quando regressou, com fome e cansado pela dura jornada – já que só havia conseguido caçar 2 miseráveis ratos – encontrou a mesa arrumada e, sobre ela, um apetitoso bolo de farinha de painço e carne de cordeiro. Assombrado, exclamou:
- Casei-me sem saber? Esta comida, sem dúvida nenhuma, é obra de uma mulher. E onde está essa cozinheira?
Naquele momento, se abriu o ovo de avestruz que recolheu e saiu dele uma donzela belíssima.
- Meu nome é Seetetelané, dizia ela com a voz doce, e permanecerei ao seu lado até que, num instante de embriaguez, me chame filha do ovo de avestruz. Se o fizer, sumirei e não voltará a me ver nunca.
O caçador de ratões selvagens prometeu não se embriagar em sua vida e, durante várias dias, desfrutou de uma existência maravilhosa em companhia de sua bela esposa, que lhe narrava contos fantásticos e cozinhava pratos especiais.
Um dia vendo, que ele estava aborrecido, a jovem disse:
- Gostaria de se transformar no chefe da aldeia e ter súditos, animais e serviçais?
- Seria capaz de me proporcionar isso? Perguntou ele sem acreditar muito.
Seetetelané sorrio. Em um segundo, deu um pontapé no solo e a terra se abriu surgindo uma caravana de súditos com camelos, cavalos, mulas, carneiros e cabras, assim como grande número de homens e mulheres que, de imediato, começaram a aclamar o caçador de ratos, gritando com muita energia:
-Viva nosso chefe! Viva nosso chefe!
O homem beliscava as bochechas para se convencer de que não era um sonho. Seetetelané, sorrindo, fez com que se olhasse no reflexo das águas de um riacho e entãoele se deu conta que estava jovem e formoso e que seu calção de pele de roedores havia se transformando num riquissímo vestido de pele de chacal de pelos largos e que protegia muito.
Quando voltaram à palhoça, esta havia se transformando numa casa de pedra e madeira com 4 cômodos e seu quarto estava cheio de peles de pantera, zebra, chacal e leão.
O caçador de ratos estava a ponto de desmaiar ao ver tanta riqueza. Durante 2 semanas se portou como um verdadeiro chefe, fazendo justiça entre os seus e dando exemplos de sabedoria; ensinando a todos a trabalhar a terra, a caçar e a erguer casas de troncos e folhas. Mas uma noite, foi feita uma festa para celebrar o nascimento de um menino e o esposo de Seetetelané não conseguiu controlar a tentação e acabou bebendo.
Depois de haver tragado 4 copos de milho fermentado, os olhos enturvaram, a língua se soltou e assim começou a insultar os pais de família que estavam na reunião.
Seetetelané, decepcionada, quis que ele recobrasse a razão. Mas ele lhe deu um empurrão e disse com voz pastosa de bêbado:
- Saia da minha frente, miserável filha de um ovo de avestruz!
Aquela noite, o bêbado sentiu frio. Se levantou para buscar uma pele de chacal e não encontrou nenhuma. Saiu a porta para chamar um súdito e percebeu que retornara a sua antiga habitação, tottalmente só e vestido com seu calção de pele de ratos selvagens.
O bem estar desfrutado durante aquelas semanas fez dele um homem menos resistente a temperaturas rigorosas. Também bastante preguiçoso. Morreu poucos dias depois de fome e de frio, mais sozinho que um doente contagioso, praguejando até o último suspiro sua fraqueza em não resistir à tentação da embriaguez, aquela que causou a sua desgraça.

Retirado do livro 
Cuentos y leyendas populares africanos
Editorial Gente Nueva

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